Vencedor do Prêmio Sesc 2023 na categoria Conto, O ninho, de Bethânia Pires Amaro, mergulha em um intricado mosaico de imperfeições e doenças familiares, descortinando o véu que idealiza a casa como um lugar de segurança afetiva.
O livro de estreia de Bethânia Pires Amaro é composto por quinze contos, quinze pequenas obras-primas, que se aprofundam nas complexidades das relações familiares, explorando os recantos mais frágeis e perturbadores que podem habitar um lar. A autora nos convida a acompanhar personagens femininas que enfrentam mazelas diversas e, através de suas histórias, somos lembrados de que a casa, esse estranho ninho, não é tão sacra assim, nem tão segura.
A miséria socioeconômica e a fragilidade das conexões íntimas são exploradas com maestria pela autora, que, para Sérgio Rodrigues – jornalista e escritor que assina a orelha de O ninho –, estreia como “uma das melhores contistas da literatura brasileira”. Esses lares dessacralizados passam por vícios, suicídios, maternidades disfuncionais, abusos e violências devastadoramente reais. E, no entanto, a sensibilidade narrativa de Bethânia Pires Amaro nos ampara com as belezas imperfeitas que decorrem da tragédia cotidiana, e com a compaixão que corteja o desespero de vivermos, sempre, uns com os outros.
“Os riscos de uma literatura programática e engajada não chegam sequer a se insinuar. Trata-se de literatura, só. E ainda falta dizer muito. Por exemplo, que é notável a sensibilidade da autora para captar o que há de profundamente brasileiro em ambientes sociais situados entre a classe média e o lumpesinato. Que suas frases e cenas, moduladas com engenho, nunca soam uma nota falsa ou deixam cair a tensão narrativa. Que aqui a energia transbordante das obras de estreia convive de alguma forma com a segurança de uma veterana que tivesse decantado a sabedoria de milênios.” - Sérgio Rodrigues
“No primeiro conto deste livro, Bethânia Pires Amaro esgarça o limite das histórias de maternidade ao incluir um elemento devastador. A partir daí, o leitor não conseguirá mais largar as páginas. Terminamos cada conto pensando que o próximo não pode ser melhor, mas somos surpreendidos de novo. [..] Bethânia abraça seus personagens. Tenho vontade de também abraçá-la: que emoção ver nascer uma autora brilhante.” - Giovana Madalosso